sábado, 17 de julho de 2010

Carta a Quem tem Filhos

Você tem filhos? Eu também. Você às vezes não sabe o que fazer ou não sabe se está fazendo a coisa certa? Eu também. Seguramente existem coisas que você tem feito para educar os seus filhos e que talvez possam ser úteis para a educação dos meus, assim como também eu tenho tido boas experiências na educação dos meus filhos que talvez lhe sejam úteis. Só que não nos conhecemos. Não tem como você saber o que tenho feito de bom na educação dos meus filhos, nem eu o que você tem acertado com os seus. Que pena. Temos tanto para e aprender um com o outro sobre nossos filhos e filhas, no entanto nunca nos encontramos para falar sobre nossas experiências, para trocar conhecimentos, para nos certificarmos do que estamos fazendo certo, para desenvolvermos novas formas de nos relacionarmos com nossos filhos. É mesmo uma pena. Foi assim que aprendemos: cada um cuida dos seus. Sozinho. Sozinha. Mas será que é assim mesmo que precisa ser? Será mesmo que sempre foi assim? Agora, pensando um pouco, lembrando da minha infância, parece que não era bem assim. Lembro da minha mãe recebendo a visita das amigas e discutindo com elas as artes que eu fazia. Elas costumavam trocar ideias de como cada uma estava dando conta das suas crianças. Minha mãe até me chamava, às vezes, para participar da conversa. Conversa séria, coisa de gente grande. Às vezes ralhavam comigo, outras vezes minha mãe se enchia de orgulho e me abraçava forte na frente das amigas. Eu também era reconhecido pelas coisas boas que estava aprendendo a fazer. Também me lembro das idas e vindas das minhas avós, que ficavam dias ou semanas na nossa casa. Minhas avós eram muito diferentes uma da outra, mas tinha algo que igualava as duas: parece que não vinham somente de visita, vinham também de assessoras vovopedagógicas e pesquisavam tudo a respeito da educação dos netos. Faziam todo tipo de perguntas, algumas tão indiscretas que minha mãe até saia de perto. Mexiam em tudo. Mexiam até dentro das minhas orelhas. Até hoje, quando tomo banho, parece que a mãe do meu pai está lá me observando, e não me deixa esquecer das orelhas. Pensando bem, fomos educados em outro mundo. Num mundo em que as pessoas tinham mais tempo e mais pessoas para dividir o cuidado com os filhos. Minha avó morava ali pertinho, dobrando a esquina. Minha mãe e as amigas dela passaram a minha infância ao meu lado. Eram outros tempos aqueles. E outras famílias, também. É verdade que o mundo mudou. Os amigos estão mais distantes. As famílias ficaram diferentes. O mundo mudou muito. O casamento. A família. Dizem que até as crianças nascem diferentes. Pode até ser que nasçam mesmo de olhos abertos. Mas tudo isso não justifica nossa insegurança para educá-las. As crianças realmente nascem muito diferentes. De olhos abertos, quase falando inglês, muito mais rápidas, exigentes e participativas. Mas nós também mudamos: somos pais mais inseguros, mais distantes e insatisfeitos. E, principalmente, estamos educando sozinhos. Às vezes, até sem poder contar com o auxílio do outro pai, porque viaja ou porque trabalha ou simplesmente porque não sabe participar. Tem gente que simplesmente educa os filhos sozinho, na crença, de que se pode ser pai e mãe ao mesmo tempo. Não sabem que nem todo tempo do mundo é suficiente para se ser inteiramente pai ou inteiramente mãe, quanto mais tudo ao mesmo tempo. Nem sabem que se precisa de ajuda, que é preciso ajudar o outro pai na educação dos nossos filhos. E, por que não, quem sabe até convidar outros pais a dividirem conosco suas experiências para que possamos, aprendendo e ensinando uns aos outros, educarmos os nossos filhos.

Claudemir Casarin, pai (junto com a Nanci) do Diego e da Giulia